Quando a fase de grupos da Copa Libertadores da América de 2010 terminou, muitos apontaram que o São Paulo teria o confronto mais fácil de todos os oito jogos do mata-mata. E os que pensaram dessa forma tinham razão. Afinal, o Universitário, do Peru, não fez nada de exuberante na competição. Nos seis jogos disputados no grupo 4, os peruanos somaram dez pontos, com duas vitórias e quatro empates. Mas quem assistiu ao menos um desses jogos, sabia perfeitamente que o Universitário é um time fraco.
Era o cenário ideal para o time paulista engrenar na Libertadores e até na temporada, já que o desempenho mostrado nos primeiros quatro meses de 2010 esteve muito aquém do esperado. Entretanto, o São Paulo começou a se complicar na partida de ida, quando empatou por 0 a 0 e teve diversas chances para vencer e sair classificado do Peru. De qualquer forma, a partida de volta poderia ser a hora da redenção, o momento certo para crescer num torneio como esse.
Pois bem. O Tricolor enfrentou o Universitário na noite desta terça-feira no Morumbi, com 44 mil torcedores, e o futebol apático continuou o mesmo. Ricardo Gomes surpreendeu e sacou Washington para colocar Fernandinho no ataque, apostando na velocidade e nos dribles do atacante. Nada mudou. O São Paulo precisava do gol para se classificar, mas totalmente desorganizado dentro de campo, as jogadas de ataque em nada resultavam. Aliás, resultavam apenas na ira da torcida presente e dos outros tantos milhões que assistiam pela televisão.
A primeira chance real de gol saiu apenas aos 18 minutos do primeiro tempo, quando Hernanes cobrou escanteio e Rodrigo Souto, de cabeça, mandou a bola no travessão. A torcida impacientava-se pouco a pouco e parecia prever o sufoco que viria adiante. A falta de variação de jogadas levava o time brasileiro a fazer sempre a mesma coisa. Hernanes, no meio-campo, passava a bola para a direita, recebia de volta, passava para a esquerda, recebia de volta e nada. Esse time do São Paulo parece que não treina junto, não se conhece. Em campo não é demonstrada nenhuma jogada ensaiada, variações de esquemas táticos no andamento da partida e toques precisos. A bola parecia queimar no pé dos jogadores. Marlos, Fernandinho e Dagoberto tentavam resolver tudo sozinhos e nada conseguiam. Cicinho esteve perdido em campo, errando todos os passes, cruzamentos e desarmes, além de ser presa fácil para os atacantes adversários.
O jogo foi ficando perigoso e, mais uma vez, o Universitário dava mostras de ser um time realmente fraco. Defendia-se constantemente e raramente se aventura num contragolpe. Era um jogo de ataque contra defesa. A defesa se mostrava bem postada, nada mais que isso, enquanto ao ataque faltava criatividade, inspiração e até um pouco de garra.
No segundo tempo, Ricardo Gomes colocou Washington no lugar de Jorge Wagner, mudando o esquema para o 4-3-3. Um pouco melhor, aos sete minutos o Tricolor perdeu um gol feito através de Marlos que, na pequena área, conseguiu a proeza de desperdiçar a chance mais clara do jogo. A pressão se intensificou ainda mais, mas sem êxito algum.
O jogo se arrastou assim até o seu final. Um São Paulo burocrático e muito mal em campo, contra um Universitário pouco qualificado, mas aguerrido e cumpridor de seus objetivos, já que veio ao Morumbi para empatar e levar a decisão para os pênaltis. E, por incrível que pareça, eles conseguiram a façanha.
Nas penalidades, Rogério Ceni foi o herói. Começou assustando a perder o primeiro pênalti, mas prontamente se recuperou, defendeu duas cobranças e ainda viu outra ir para fora, enquanto Hernanes, Marcelinho Paraíba e Dagoberto converteram os pênaltis que levaram o São Paulo às quartas-de-final da Copa Libertadores.
Os mais otimistas dirão que a equipe ainda vai crescer e que, mesmo sem um futebol convincente, o Tricolor está entre os oito melhores da América. Porém, a realidade é outra. Se o São Paulo avançou de fase, muito disso deve-se ao desempenho do adversário, que nada produziu e jogou na retranca nas duas partidas.
Faltam empenho e qualidade tática para esse time. Falta comando e também dedicação por parte dos jogadores. O próximo adversário será conhecido amanhã no confronto entre Nacional-URU e Cruzeiro. Possivelmente os mineiros conquistaram a vaga e o confronto decisivo nas quartas-de-final será o mesmo do ano passado. Sem perspectivas de melhora, o enredo final pode ser o mesmo. Quiçá até pior do que em 2009. Com esse amontoado de jogadores sem padrão em campo, o reflexo pode ser a eliminação do torneio. Há algo muito errado neste São Paulo, mas se nem Ricardo Gomes sabe explicar, quem diremos nós…
CHIVAS PERDE, MAS SE CLASSIFICA
Outro time que conquistou vaga nas quartas-de-final da Copa Libertadores nesta terça-feira foi o Chivas Guadalajara. Depois de vencer por 3 a 0 o Vélez Sarsfield na partida de ida, os mexicanos foram até a Argentina e perderam por 2 a 0 para os rivais. Com o resultado, o Chivas aguarda a definição dos próximos jogos para saber quem será o adversário, que sairá do confronto entre Libertad e Once Caldas.